Todos os nossos antepassados globais partilharam a mesma visão: que a Natureza está viva e consciente. Está a surgir gradualmente uma nova visão que abraça de novo o Animismo. Nesta recontagem de uma história antiga, lembrar-nos-emos finalmente daquilo que temporariamente esquecemos: que fazemos parte da Natureza.

Quando o mundo ficou completo e os deuses se maravilharam com a sua criação, começou uma discussão sobre a humanidade. Estas criaturas, ao contrário de todas as outras, tinham o poder do livre arbítrio. Tinham o potencial de cuidar da Terra, como benfeitores bondosos e amorosos, e de espalhar a harmonia e o amor pelo mundo. Ou podem tornar-se tirânicos, presunçosos e destrutivos na sua ânsia de demonstrar o seu poder sobre os outros e sobre todas as outras criaturas.

Não é verdade que ambos os aspectos estarão sempre presentes? Haverá idades de ouro, em que a humanidade abraça a luz, e idades de trevas, em que é atormentada pela ignorância. Deve ser assim! É a natureza do livre arbítrio. O ser humano tem de crescer desde a infância, para finalmente encarnar a sua verdadeira natureza adulta, através de todas as fases dolorosas do desenvolvimento. E a conclusão deste ciclo não está de modo algum assegurada. A humanidade tem de fazer as escolhas críticas sozinha. Os deuses sabiam que não podiam intervir neste assunto. “Mas talvez possamos ajudar”, sugeriu o deus do céu, “dando o apoio de um pai amoroso”.

“O conhecimento de como manter o equilíbrio e a harmonia deve ser plantado algures, para que aqueles que estão dispostos a procurá-lo possam tornar-se guias para os outros”, disse a deusa do oceano. “Talvez nas profundezas do meu ventre oceânico, para que se sintam atraídos a regressar a mim.” “Não, isso é demasiado remoto”, disseram as montanhas. “O topo dos meus picos mais altos seria melhor. Aqueles que lá chegarem levarão as suas visões longínquas para os vales e partilhá-las-ão com os outros.”

“São todas boas sugestões”, disse a lua, “mas temos de nos lembrar de uma coisa. Cada ser humano tem toda a criação dentro de si. O mundo é um reflexo da sua natureza. Ela pode criar o céu ou o inferno na Terra”. Reflectiram durante muito tempo. “Devemos colocar a verdade no único sítio que é acessível a todos, mas onde quase nunca se pensa em procurar. Desta forma, a descoberta será gradual e, quando concluída, será irreversível.”

E assim foi decidido. A chave para a auto-realização estaria escondida no coração humano.